E numa bela manhã fui na caixa do correio verificar se algum amigo havia me mandado um cartinha à moda antiga e acabei encontrando algo muito pior. Na hora meu coração pulou, um sorriso apareceu no meu rosto, pois assumi que no envelope timbrado da UDI vinha, finalmente, meu visto. Ledo engano.
Esperei chegar em casa e sentar no sofá para abrir o envelope e naquele momento, todo o meu pouco norueguês desapareceu do meu cérebro. Eram 4 páginas, frente e verso, completamente escritas em norsk. Meu coração acelerou mais ainda porque não me pareceu certo usar tantas palavras pra dizer “bem-vinda à Noruega”.
Nem acreditei quando traduzi a frase em negrito e ela dizia: Seu visto foi negado. Você tem que deixar o país em 3 semana. Faltou só o “beijos e tchau”. Tremia e soluçava e na minha cabeça só aparecia a minha própria imagem de mala e cuia voltando pro Brasil. Era a imagem da derrota de sonhos e desejos, de insucesso, de incapacidade e principalmente de não ser bem-vinda em algum lugar.
Tive que segurar todos esses sentimentos e tomar coragem de ligar para o Bjørn, que estava no trabalho, e dar-lhe a notícia. “Oi, tudo bem? Então, meu visto foi negado e tenho que ir embora em 3 semanas”. Só que com muito mais choro e soluço. Definitivamente um dos piores dias da nossa vida. Até Bjørn chegar em casa eu só chorava e olhava pro papel sem nem entender direito o que tinha acontecido.
Passado o choque, chegava a hora de ser prática e precisa. Ligamos para um amigo da família, que, além de ser norueguês, é a pessoal mais calma do mundo. Ele foi quem nos guiou/apoiou ao longo de todo o processo. Eu digo que se ele fosse um personagem, ele seria o Yoda. Ou seja, o mestre estava do nosso lado.
Explicando o problema e como resolvê-lo.
Quando você aplica aqui para o visto de reunião familiar, sendo você brasileiro e seu marido/mulher norueguesa, dentre os inúmeros documentos que você tem que entregar, (veja aqui a lista), talvez o mais importante seja a comprovação de que o seu “patrocinador” ganhou o mínimo exigido pela UDI no ano anterior.
You must have an income of at least NOK 252 472 per year pre-tax and have earned at least NOK 251 856 in 2014 pre-tax. You cannot have received social security benefits during the last 12 month.
No meu caso, apliquei no meio do ano e por isso não tínhamos a declaração de imposto de renda brasileira do ano de 2014. No lugar entregamos uma carta do antigo trabalho do meu marido declarando os rendimentos. Aparentemente a UDI resolveu declarar esse documento. Assim nos enquadramos no quesito “você não tem dinheiro o suficiente para morar aqui, mesmo que você já esteja morando aqui há um ano”.
Entre as 4 páginas, frente e verso, dizia que se seu pedido foi negado, você pode apelar à decisão. A UDI vai rever seu caso e então você pode ficar no país até que o novo pedido seja processado.
When you appeal, you must explain why you believe that the first decision you received was incorrect.You must have new information or documents in your case. If you do not, your appeal will most likely also be rejected.
Já com a declaração de imposto de renda brasileira e norueguesa em mãos, nosso amigo norueguês nos ajudou a escrever um linda e breve carta em norueguês enumerando todos os novos documentos e porque eles não foram incluídos antes.
Durante esse processo, consideramos consultar um advogado para dar um opinião legal sobre nosso caso, pois muitas dúvidas surgiram como “era possível combinar os rendimentos dos dois países? deveríamos colocar mais uma pessoa como “patrocinador”? só esses documentos seriam suficientes? Porque a UDI não reconheceu o documento previamente anexado?”
Ninguém sabia um advogado para indicar. Consultei muitas brasileiras e noruegueses e a resposta ou era “nunca precisei de um” ou “fale diretamente com a UDI” ou ainda “você vai gastar dinheiro á toa”. E acho que essa é a verdade aqui, ninguém precisa muito de advogado, todas as informação estão a sua disposição.
Confiante, mas com frio na barriga, em uma semana entreguei a carta na polícia aqui e me vi esperando mais uma vez pelo visto.
Meu caso é muito comum. Muitos, de várias nacionalidades, têm o visto negado por não terem como comprovar os rendimentos que a UDI considera mínimo. Dinheiro na conta ou na poupança não conta. Não importa também o quanto VOCÊ ganhou. Ou seja, ao longo do ano anterior, seu “patrocinador” não tem como comprovar que você ganhou o mínimo, nem perca tempo aplicando, pois é HORRÍVEL receber uma carta dizendo que você tem que deixar o país. Deixe seu marido ir na frente e aí perto dos 12 meses você muda e aí aplica.
E vale lembrar que esse “mínimo”, apesar de ser um montante quando convertido para real, ele não é muito comparado com a média ganha pelos noruegueses. Se você é norueguês e ganha isso, você pode aplicar para receber uma ajuda do governo, porque eles sabem que isso não é muita coisa.
Finalmente, mais ou menos dois meses depois, recebi, agora via e-mail, um breve texto, que apesar de não pedir desculpas nem de dizer seja bem vinda, dizia que meu pedido de residência tinha sido aprovado. Chorei de felicidades, ganhei flores, espumante e fui comemorar!
No próximo, conto como um e-mail vira um cartão de permanência, CPF e conta no banco.